Abaixo transcrevo uma lenda que encontrei num livro de Pierre Vergé. Mesmo advinda de uma visão mítica, própria do Candomblé, a estória me parece bastante auxiliar para a compreensão de Exú também como arcano da Umbanda:
Havia uma estrada que dividia quatro fazendas, cujos fazendeiros eram amigos. Certa vez passou um homem por essa estrada, que sobre a cabeça usava um vistoso chapéu. Ao final do dia, os fazendeiros comentaram o fato. Um deles disse: “Viram o homem de chapéu preto?” E o outro: “Preto? O chapéu era azul!”. E o terceiro: “São cegos? O chapéu era verde!”. E o último: “Vocês estão loucos, eu vi bem e o chapéu era vermelho como sangue!”. E passaram a discutir. Sem que um conseguisse convencer o outro, acusaram-se mutuamente de mentirosos. Juntou gente para ver o tumúlto. Já estavam nas vias de fato quando lá de trás grita o tal homem: “Parem de brigar, estúpidos! Era eu quem usava o chapéu. Eu sou Exú, e gosto de causar confusão!” Parece boba, mas a lenda é instrutiva. Exú nada mais fez do que passar pela estrada com seu chapéu de quatro cores (a simbolizar os quatro elementos, os pontos cardeais, as quatro fases do processo alquímico…), indicando que domina as forças da natureza e situa-se no centro desse poder. Esse também é, em outras palavras, o significado da encruzilhada. Também confirmamos aqui que Exú, em sua completude, será sempre mistério, sobre-humano, para nós. Podemos mirá-lo em um de seus aspectos, ou em outro, mas seu todo permanecerá oculto.
Não foi Exú quem causou a confusão, os homens brigaram por si mesmos. Ele somente provou aos fazendeiros que se tivessem confiado um na palavra do outro teriam decifrado a verdade. Numa saudável lição de humildade, Exú devolveu aos homens sua própria torpeza. Eis um de seus muitos atributos. Por isso se afirma que ele é neutro e habita o ponto de equilíbrio entre o Céu e a Terra.
Exú é o equilíbrio de tudo.
Laroyê Exú